Todos já nos deparamos com esta temática que tem cada vez mais tomado conta da mídia. Muitos conhecem as formas em que tais transtornos podem aparecer, mas nem sempre são discutidas as principais situações de vulnerabilidade que podem acarretar em seu surgimento. Sabe-se hoje, que mulheres são mais propensas a sofrer com tais transtornos, mas será que nos implicamos com a cultura de imagem que nos cerca? Mais do que lutar contra os sintomas é necessário entender o contexto social e psicológico que está envolvido em tal surgimento
O que são transtornos alimentares?
Todos já nos deparamos com esta temática que tem cada vez mais tomado conta da mídia. Muitos conhecem as formas em que tais transtornos podem aparecer, mas nem sempre são discutidas as principais situações de vulnerabilidade que podem acarretar em seu surgimento. Sabe-se hoje, que mulheres são mais propensas a sofrer com tais transtornos, mas será que nos implicamos com a cultura de imagem que nos cerca? Mais do que lutar contra os sintomas é necessário entender o contexto social e psicológico que está envolvido em tal surgimento.
O que são transtornos alimentares?
Para Borges et. al (2006)[1], os transtornos alimentares se caracterizam como doenças psiquiátricas e se constituem em graves alterações do comportamento alimentar. Ainda, tais transtornos afetam majoritariamente, adolescentes e jovens do sexo feminino. Segundo os autores, os principais transtornos são a anorexia e a bulimia nervosas. Tais doenças apresentam alguns sintomas em comum, sendo eles, a presença de uma preocupação excessiva com o peso, o aparecimento de uma distorção da imagem corporal e um medo patológico sobre o ganho de peso.
Segundo os autores, esses transtornos apresentam um quadro clínico muito característico. No caso da anorexia nervosa, seu início se dá frequentemente a partir de uma dieta com restrição de grupos alimentares, excluindo-se aqueles que o paciente julga como mais calóricos. A restrição alimentar aumenta progressivamente, podendo evoluir até mesmo para o jejum. Um fator interessante é que, segundo apresentam os autores, os pacientes relatam que o início do quadro se deu após um fator estressante como comentários sobre seu peso ou o término de um relacionamento, por exemplo. Dessa forma, aos poucos, o paciente passa a viver em função da dieta, do peso, de atividades físicas e de sua forma corporal.
Já no caso da bulimia nervosa, assim como discutem Borges et. al (2006), geralmente o paciente começa com uma vontade incontrolável de comer que pode fazer com que ele coma tudo que encontrar na geladeira. Depois deste momento, surge a culpa e até mesmo um mal estar físico relacionado à ingestão exagerada de alimentos. Daí nasce à ideia de induzir o vômito para não engordar. Segundo os autores, após o vômito, geralmente ocorre uma sensação de estar fazendo algo fora do normal, acarretando em ansiedade, culpa, baixa autoestima, etc. Tais sentimentos podem fazer com que haja um retorno à dieta de forma intensa, aumentando a restrição alimentar e facilitando os episódios bulímicos.
Além dos óbvios prejuízos para a saúde que uma dieta restritiva pode trazer, as consequências psicológicas dos transtornos alimentares também merecem atenção. Segundo Borges et. al (2006), a anorexia e a bulimia nervosas se caracterizam por uma obsessão pela perfeição do corpo. Portanto, entre as consequências para a saúde mental, podem ser citadas, a introversão, sexualidade inativa, existência de doenças afetivas, transtornos ansiosos, impulsividade, dentre outros.
Sociedade Gordófica
Mas, o que leva alguém a desenvolver um medo patológico ao ganho de peso? Infelizmente, atualmente nossa cultura coloca na aparência, milhares de significados que não são naturais. Segundo Fort, Skura e Brisolara (2016)[2], o panorama sociocultural ocidental tem sido fortemente identificado como valorizador da magreza e da juventude, o que, como consequência, gera uma pressão para o emagrecimento e rejuvenescimento e uma exagerada preocupação com o corpo. O medo em engordar e a busca pela perfeição estão diretamente relacionados aos papéis socais de sucesso pessoal e profissional. Portanto, para os autores, a ênfase da sociedade contemporânea para o ideal de beleza centrado no corpo magro e jovem, fornece um ambiente que justifica a perda de peso e rejuvenescimento a qualquer custo.
Por isso, no mercado da beleza encontramos de tudo. Dietas da moda, extremamente restritivas e não saudáveis, um mercado de cirurgias estéticas ou procedimentos invasivos, milhares de modalidades de exercícios físicos que prometem perda rápida de peso. Cuidar de si não é o problema, mas a motivação que se tem deve ser investigada. O corpo perfeito é possível?
Enquanto isso, a imagem de “beleza ideal” continua a estampar as capas de revistas e os programas de televisão e querem nos incentivar a buscar um corpo que não é o nosso. Apenas uma estrutura corporal é tolerada, portanto, se uma mulher não a tem, ela deve busca-la a todo custo e camuflar essa busca como sendo uma “vida saudável”.
O que é beleza?
Como você ensina para suas filhas sobre a beleza? Você diz que elas estão lindas apenas quando se arrumam para uma ocasião especial, usam maquiagens e roupas que disfarçam suas imperfeições? Se um comentário negativo sobre o corpo de uma menina já pode representar vulnerabilidade, uma palavra positiva também pode representar força.
Mas, o que você pensa sobre você? Você não pode ensinar algo para alguém que você ainda não compreendeu. Como você se sente sobre seu corpo? Quantas de nós, mulheres, somos bombardeadas o tempo todo por imagens e padrões sociais. Muitas vezes não conseguimos ao menos gostar de quem somos ou nos sentir confortáveis em nosso próprio corpo.
Não deveria ser assim. Você deveria ter o direito de comer o que quiser, mantendo uma relação saudável com seu corpo. Uma alimentação saudável é necessária sim, mas a saúde não está relacionada à prisão de uma dieta restritiva cheia de proibições. Você deveria poder usar as roupas que gosta, sem se preocupar com sua celulite ou uma curva no seu corpo que você não gostaria que estivesse lá. Seja livre! Mas, não apenas isso. Se ame! Independente do seu manequim, você continua sendo você.
Mas, se ainda não conseguiu ter essa segurança, não desista, realmente as forças contrárias a ela são muito maiores. Acima de tudo, não julgue. Não faça comentários ou avaliações sobre a imagem de outras pessoas, porque dessa forma, você está criando o ambiente ideal para o medo e a repressão. Cuide do seu corpo, ame o seu corpo e não faça julgamentos precipitados que não cabem a você.
Referências:
[1] BORGES NJBG; SICCHIERI JMF; RIBEIRO RPP; MARCHINi JS; DOS SANTOS JE. Transtornos alimentares – Quadro
clínico. Medicina (Ribeirão Preto) 2006;39 (3): 340-8. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/rmrp/article/view/389/390>. Acesso em 28 de nov. de 2016.
[2] FORT, Mônica C; SKURA, Ivana; BRISOLARA Cristina B C. Corpos jovens e magros: imposições midiáticas, pressões sociais, angústias pessoais. XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, São Paulo, SP. Disponível em: <http://portalintercom.org.br/anais/nacional2016/resumos/R11-0519-1.pdf>. Acesso em 28 de nov. de 2016.
Imagem: Pinterest
Fonte: Psicologia Acessível