São 04 horas da manhã. Meu filho chega pela segunda vez em minha cama, e quando peço para ir para sua caminha ele responde:
Só vim te dar um abraço, eu te amo mamãe!
E como se tivesse adivinhado minha falta de sono, permanecemos ali, abraçados.
Meus pensamentos e sensações estão contaminados pelas lembranças do filme: Como eu Era antes de Você, um filme de Thea Sharrock com a lindíssima presença e sorriso da Emilia Clarke, Sam Claflin, Janet Mcteer, e Charles Dance.
Com previsões de muitos lenços na estreia (o que de fato presenciei na maioria do público no cinema), indicado por amigas especiais que fizeram a leitura do livro.
Confesso que a princípio fiquei com receio de estar diante de um melodrama hollywwodiano, em que mocinho e mocinha são felizes para sempre…, mas na verdade, o autor conseguiu ser mais intenso que isso quando trouxe as limitações de Will e sua dificuldade de entrega à vida devido à sua condição atual.
Confesso que a princípio fiquei com receio de estar diante de um melodrama hollywwodiano, em que mocinho e mocinha são felizes para sempre…, mas na verdade, o autor conseguiu ser mais intenso que isso quando trouxe as limitações de Will e sua dificuldade de entrega à vida devido à sua condição atual.
O Próprio tema já anuncia o conflito do filme: Como eu era antes de você, mostrando um imenso conflito e dores emocionais de “desidentificação” de Will diante de sua condição atual de tetraplégico.
Todos Nós, no decorrer de nossas Vidas, construímos nossa identidade desde que nascemos: Influenciados pela nossa família e pelos meios sociais que somos inseridos desde a infância; nossos gostos, atividades, valores, crenças, apego ou desapego aos bens materiais; após a adolescência, diante dessa gama de opções, vamos escolhendo o que vai permanecer como parte de nossa identidade adulta e assim construímos nosso modelo de Vida.
Will, além de rico e bem sucedido, levava uma vida de viagens e esportes radicais, com diversas atividades. Ao sofrer o acidente e ficar tetraplégico, no seu modelo de mundo, não havia mais espaço para ele na Vida – por isso o tempo todo verbaliza para Louise: Ah, se você soubesse como eu era antes do acidente…
Will confundiu – fundiu – sua identidade à sua forma de Vida.
Will não compreendeu que com o acidente mesmo que não o deixasse nessas condições, após o trauma, jamais seria o mesmo, pois estava diante da fragilidade da Vida; e quando experimentamos situações como essa, de perdas e sofrimentos, quando reconhecemos a nossa mortalidade, sempre questionaremos nossa identidade, escolhas e forma de Viver.
Will não conseguiu reconhecer que seus sentimentos, emoções, inteligência, capacidade de adaptação e forma de perceber o mundo poderiam abrir novos horizontes e caminhos, não aceitou a perda de seu modo de Vida.
Will não percebeu que além das dores e limitações sofridos através da cadeira que lhe aprisionava, as dores da prisão da mente; em manter o apego ao seu modo de Vida, lhe causavam dores intensas e muito mais profundas.
E mais ainda, a cena do filme que mais me chamou a atenção e enfatiza nossa capacidade de construir novas ressignificações para a Vida, mesmo diante das perdas, foi no momento que Louise o convida para dançar, ela diz o seguinte:
– Só estamos aqui graças às nossas limitações: Se você estivesse em sua Vida antiga, estaria atrás das pernas longas das loiras do salão, e eu seria a garçonete, nesse mundo nunca nos encontraríamos.
O que os aproximou e permitiu a intensa troca de afeto entre os protagonistas, foram suas limitações diante da fragilidade; e não suas capacidades, dinheiro ou estilo de vida.
Estilos que jamais permitiriam esse encontro e arrisco dizer mais; Através das fragilidades e limitações de cada um, aprenderam uma das mais sublimes formas de amor: A aceitação – e talvez isso seja o mais comovente no filme.
O verdadeiro Amor aceita cada um com suas limitações e mergulha no melhor que isso possa Ser. E uma relação que no início se apresentava pequena, incômoda e frágil, se torna muito intensa e de muita cumplicidade.
Quando Louise senta na cadeira de Will e os dois deslizam pelo salão, descobriram ali a maior capacidade de entrega e reciprocidade entre dois seres humanos: Ser quem é, como é, partilhando o melhor de si no aprendizado do Amor, com autenticidade e sem o desejo de aprovação.
Will prova isso quando realiza o sonho de Louise e lhe dá a tão desejada meia amarela listada de preto, prova de afeto regado de empatia e valor do que é importante para o outro.
E na intensidade do Amor, não há apego, Will não pertence a Louise e ela compreende isso quando respeita o livre arbítrio e permanece ao lado dele; por mais que a escolha de Will, que não conseguiu reconstruir sua identidade na sua condição atual, lhe doa.
Louise nos mostra que a capacidade de Amar é nossa e não do outro. Que eu amo a medida que consigo me doar e aceitar o outro e suas escolhas – e o curioso é que a psicologia nos mostra que eu só aceito o outro como ele é se antes aceitar a mim como sou, mesmo que eu escolha usar meias coloridas de abelha e consiga assumir isso diante da Vida.
E embora o filme gere uma polêmica em relação a escolha de Will, acredito que entrar nessa discussão do que é certo ou errado é limitar muito nossa capacidade de abstração e nos rouba o mergulho intenso sobre o Amor nas relações humanas, que o filme nos proporciona.
Como Eu Era antes de você realmente é um filme intenso e nos mostra que, o “felizes para sempre” só é possível, à medida que conseguimos viver intensamente nossa relações e até onde conseguimos mantê-las.
Apesar das nossas condições e limitações.
Autora: Gizele Cordeiro