Nos últimos anos, o número de idosos que buscam atendimento psicológico vem aumentando. Para compreender os fatores que levam uma pessoa na terceira idade a procurar por um psicólogo, é preciso entendermos o que esta fase da vida traz consigo.
Muitas mudanças acompanham a fase de envelhecimento, assim como as etapas anteriores da vida, que englobam alterações físicas, sociais, emocionais. E também assim como as demais fases de desenvolvimento humano, há características bem particulares que são vivenciadas de forma diferente por cada indivíduo.
Quando falamos nas mudanças físicas, consideramos que o corpo sofre alterações não só na aparência, mas também em algumas funções, como a mobilidade que pode aos poucos se tornar reduzida, a pessoa não consegue desempenhar algumas atividades da mesma forma que antes, poderá fazê-las de forma mais lenta ou com certa dificuldade.
Também a questão da aparência deve sim ser levada em consideração como um processo que muitas vezes tem difícil adaptação, pois a forma como a pessoa percebe o seu corpo está intimamente ligada com a construção da identidade – ela se vê assim como é o seu corpo.
A forma como este indivíduo se percebe também está relacionada com seu papel na sociedade, que agora também possivelmente irá sofrer mudanças – ou pelo fato de ela deixar de trabalhar e estar aposentada, ou por precisar mudar de emprego, entre outros. Isto está também relacionado com a imagem que o idoso representa na sociedade – imagem esta que é construída e assimilada pelo indivíduo ao longo de toda a sua vida. Desta forma, o fator econômico também é considerado neste processo de adaptação, ou seja, a relação que o idoso faz entre o “trabalhar e ganhar dinheiro” com o “ser produtivo, ser útil”.
O seu papel dentro do ambiente familiar também pode sofrer alterações que exigirão adaptação, como quando não há mais que se responsabilizar pelos filhos que já tem suas próprias vidas e estão longe de casa; quando se passa mais tempo na convivência do cônjuge ou outros familiares em casa, já que agora não trabalha fora; quando se torna dependente do cuidado dos filhos ou de outros familiares, etc.
O fator “dependência”merece bastante atenção neste sentido, pois uma das características que se relacionam com a fase da velhice são as eventuais doenças que alteram o curso normal da vida e do envelhecimento – por exemplo, as doenças crônico-degenerativas.
Algumas alterações psicológicas também tem sido frequentemente percebidas em idosos, como a depressão, ansiedade, isolamento, transtornos alimentares (como anorexia ou obesidade), alcoolismo, entre outras. Também tem sido notadas situações de estresse ocasionadas por relacionamentos, dificuldades de aceitação das mudanças mencionadas acima e de outras (como desempenho sexual/libido), divórcio. Pode estar presente também a vivência do luto pela perda de entes queridos e mesmo o luto pela perda de sua própria identidade.
É claro que a forma como a terceira idade é percebida pelas pessoas tem mudado bastante nos últimos anos. Apesar de a OMS (Organização Mundial da Saúde) definir como idosa a pessoa com 60 anos de idade ou mais, muitas pessoas vivenciam esta fase apenas muito mais tarde (ou mais cedo, o que vai depender das experiências pessoais, percepção, histórico de vida). Inclusive no Brasil, a presença das pessoas com mais de 60 anos de forma ativa na sociedade e que ainda não se reconhecem como idosas é notória. Por isso é preciso evitar os estereótipos que existem em torno da pessoa idosa – e mesmo os estereótipos que a própria pessoa construiu acerca da fase que agora irá vivenciar. Por outro lado, é preciso ressaltar que a não aceitação do processo de envelhecimento também é uma questão que merece cuidado, já que pode ser responsável por muito sofrimento, já que a pessoa pode ter dificuldades para se reconhecer e se aceitar.
A psicoterapia tem um papel importante então nestas situações, pois vem como um auxílio à adaptação do indivíduo a esta nova fase de sua vida, contribuindo para que ele compreenda as mudanças que estão ocorrendo com ele, encontre alternativas para lidar com elas, possa reconhecer a sua identidade mesmo em outra etapa da vida, conseguindo ainda solucionar conflitos e reconstruir crenças estabelecidas em momentos passados, conquistando maior autoconfiança e melhorando a sua autoestima.
Em casos onde houve perdas cognitivas ou onde haja necessidade de reabilitação por eventos adversos ou pela ocorrência de patologias, a psicoterapia também exerce um importante papel. Vem auxiliar o idoso a aceitar, compreender e vivenciar de outra forma a sua atual condição, motivando-o a persistir no tratamento para seu bem-estar e sua qualidade de vida.
Assim, trabalhar na psicoterapia a motivação e a autoestima do idoso auxilia ainda no tratamento de demais patologias que podem estar presentes, como diabetes, hipertensão ou outras onde o uso de medicações de forma contínua é necessário. Isso porque, muitos idosos se sentem desanimados em seguir corretamente o tratamento, por não terem encontrado motivação para tal ou mesmo por influência de seu estado emocional e psicológico.
Concluindo, a psicoterapia na terceira idade deve ser compreendida como uma ferramenta que irá contribuir para a promoção de bem-estar, saúde e qualidade de vida e deve sempre ser pensada como aliada aos demais tratamentos ao idoso.
Autora: Ane Caroline Janiro